Quando me acontece alguma coisa, prefiro estar presente


Recentemente eu li o A biblioteca da meia-noite, do autor Matt Haig (já tem post sobre ele aqui) e essa frase me pegou de um jeito absurdo. Na hora que eu li essa frase, a identificação foi absurda. Percebi que, frequentemente, eu entro nesse limbo e começo a ter uma crise identitária (?), me perguntando pra onde raios eu tô levando minha vida?.


Por diversas vezes eu já me senti um impostor; uma sensação pior do que estar num lugar ao qual você não pertence, já que nesse caso o "lugar" é a sua própria vida. Me batia um certo desespero perceber que eu não me sentia no controle das rédeas que a regiam, uma constante sensação de estar sendo coadjuvante da minha própria história. Ficava ainda mais preocupante quando eu percebia que, ao ter esses pensamentos, eu meio que "voltava pro meu corpo", por que a sensação era realmente a de estar sendo um espectador da minha vida.

A verdade é que eu sei que a minha vida é minha e que eu determino o caminho pelo qual ela vai seguir. Isso é bom. Não é? Bom, ao menos deveria ser. Não sei se aguento ser culpado pelo caminho que ela vai seguir... e se o destino não for bom? Existe, de fato, um destino, um ponto de chegada? Ou a vida é só uma gigantesca árvore com incontáveis caminhos intermináveis? Fico com a sensação que jamais chegarei lá por que não existe um ; só o aqui e o agora. 

Isso me faz desejar refazer algumas coisas. Tá, talvez não refazer, mas voltar pra certos momentos e vivê-los, de fato. Já aconteceu com vocês de, ao se lembrar de um momento legal, não se lembrar como peça importante da história? Minhas lembranças, mesmo que dos meus momentos favoritos, são todas em terceira pessoa. Isso me frustra e tem aumentado com uma frequência absurda durante essa pandemia. Eu tenho minha rotina (que não é das mais saudáveis, confesso) que repito todos os dias e todos os dias são exatamente iguais. Felizmente estou saudável e seguro e por isso eu sou grato, mas até quando? Saudade de poder ver o pôr do sol, de sentir o vento que vem do mar, de ouvir o quebrar das ondas, de comer uma pizza depois de sair do cinema com os meus amigos. As lembranças desses momentos aquecem meu coração e o meu corpo nos dias frios e solitários.

Mas essas memórias são minhas, não são?

São, sim. Cada uma delas. Eu sou o protagonista da minha vida e prometo que daqui por diante eu vou viver cada momento. Que meu corpo seja um depósito de boas memórias e momentos legais. Que ele tenha marcas de momentos difíceis e que, ao olhar pra elas, eu saiba que sobrevivi a tudo isso e vou continuar lutando a cada dia: pela minha vida e pelos meus. Por mim. Quando alguma coisa acontecer comigo, eu vou sentir toda a experiência. Vou me permitir sorrir minhas alegrias e chorar minhas tristezas.

Quando me acontecer alguma coisa, estarei presente.

Alec Costa

Sou viciado em cafeína, ouço cem vezes as mesmas músicas, sempre deixo queimar o pão de queijo e jogo a colher no lixo, ao invés do pote de iogurte. Ah, e sou sempre o primeiro a derramar refrigerante nas festas. twitter instagram youtube email spotify

3 Comentários

  1. AMIGO, que porrada.

    Por muitas vezes me senti assim, e ser espectador da própria vida não é uma experiência boa. A sensação de não ter controle da própria vida, sendo que somos nós mesmos que tomamos as decisões é assustadora, ainda mais nos dias atuais onde as situações estão limitadas. As saudades de pequenas rotinas que agora são impossíveis acaba comigo, mas tento apreciar as pequenas coisas como o cheirinho do café de manhã. Mas nem sempre é fácil e possível, nesses dias lembrarei que "Quando me acontece alguma coisa, prefiro estar presente".

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  2. que texto lindo, Alec. feliz por você! espero que dê tudo certo. me deixou pensando um bocado aqui.

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  3. Esse texto não poderia ter vindo em melhor hora, eu tenho me perguntado isso a dias! Eu estou vivendo uma vida que eu quero, sentindo o que tem para sentir, vivendo o que tem para viver ou só repetindo uma rotina atrás da outra, um dia depois do outro vendo a vida passar, sem fazer absolutamente nada de memorável ou relevante? Vou adiante ainda, eu estou indo aonde, tudo isso está servindo para que? O que será de mim no futuro? Terá um futuro?
    Já foi algumas noites de sono embaladas por esses pensamentos.
    Mas, talvez, eu não devesse me preocupar tanto com o futuro, mas sim com o presente em vivê-lo, vivencia-lo da melhor forma possível.

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