Um defeito de cor: Capítulo 1


Saluton!

Sei que já comecei diversos diários de leitura aqui no blog e a maioria deles parou abruptamente, sem desfecho. Acontece que nenhum dos livros anteriores era o Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Nenhum deles mexeu tanto comigo e me arrancou tantas lágrimas quanto Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Nenhum deles me fez repensar tanto a minha existência, meu passado e minha ascendência quanto Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Hoje a gente tá aqui por que eu preciso registrar a transformação pela qual o meu "eu leitor" está passando. Vem comigo.


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SINOPSE
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens, Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes.

  Esse post não contém spoiler (até por que não existe spoiler de Um defeito de cor)! Pode ficar tranquilo! 😊
Ok. Eu já tinha visto dezenas de pessoas lendo e comentando esse livro. Marlon, Kalil, Maria. Três das pessoas mais próximas à mim que leram e são, até hoje, completamente apaixonados por esse livro. Minhas expectativas estavam muito lá em cima. Por diversas vezes ouvi as pessoas se referirem à esse livro como a "bíblia da negritude" e particularmente não sei o que o achar desse termo. Deixem aqui embaixo, nos comentários, a opinião de vocês.

Em suma, Um defeito de cor vai contar a história de uma menina chamada Kehinde (lê-se queindé) que nasceu e viveu na África com sua mãe, avó, irmã gêmea e um irmãozinho mais novo. Isso era tudo o que eu sabia da história antes de pegar pra ler. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que tudo o que eu sabia sobre o livro se resumia ao primeiro capítulo? Aqui, a autora vai basicamente contar a história dessa escrava que veio ao Brasil, trazida como mercadoria.

Ana Maria Gonçalves, autora de Um defeito de cor.

Nessa minha edição comemorativa dos de 10 anos de publicação do livro (que foi publicado originalmente em 2006) a gente conta com um prefácio escrito pela própria autora onde ela conta, basicamente, a história da concepção do livro (que, por si só, já é uma baita história). Segundo a mesma, ela encontrou esses manuscritos numa casa X lá em Salvador e o trabalho dela foi apenas o de transcrever e traduzir o que já havia sido escrito. Algumas partes do texto estavam ilegíveis, então ela tomou a liberdade de criar certas coisas pra pôr ali.

Nunca é demais lembrar que tinham desaparecido ou estavam ilegíveis várias folhas do original, e que nem sempre me foi possível entender tudo o que estava escrito. [...] Espero que Kehinde aprove o meu trabalho e que eu não tenha inventado nada fora de propósito. Acho que não, pois muitas vezes, durante a transcrição, e principalmente durante a escrita do que não consegui entender, eu a senti soprando palavras no meu ouvido.


O capítulo 1, sobre o qual conversamos hoje, começa contando a história dessa menina. Iniciei a leitura no ônibus, voltando do trabalho (assim que ganhei meu exemplar de presente da Luísa! ❤). Era onze e meia da noite quando comecei a chorar em plena condução, com as pessoas me olhando. A morte da mãe e do irmão foram extremamente impactantes pra mim. Eu realmente não estava esperando que o livro fosse violento logo no início. O mundo desabando, a merda toda acontecendo em volta dessa família, e a jovem Kehinde descrevendo o riozinho de sangue que saía da boca de seu irmão. Isso me chocou e me entristeceu demais, mas foi importante pra que eu pudesse entender, logo de cara, a inocência e a ingenuidade dessa criança. Fiquei bastante emocionado - e arrepiado! - quando a Kehinde descreveu os dois se levantando e se juntando à dança dos outros abikus.

O riozinho de minha mãe primeiro correu lado a lado com o do Kokumo, depois se juntou a ele e o espichou um pouco mais. As formigas foram obrigadas a dar uma volta maior, subindo pelo tronco do iroco. Quando não consegui mais acompanhar o trajeto delas foi que percebi que já era noite e eu ainda tinha a mão presa à da Taiwo, nós duas muito quietas, não sabendo que providências tomar.

Depois disso a gente acompanha a vó (que já não é mais a mesma pessoa) e essas duas meninas saindo de Savalu, sua cidade natal, pra ir morar em Uidá. Ali a gente tem uma "sensação de bonança depois da tempestade" que dura muito pouco, mas, pelo menos pra mim, foi o bastante pra eu poder respirar e ficar feliz por essas duas meninas. O mundo delas melhora em mil porcento quando ganham vestidos novos, por exemplo, tamanha a simplicidade dessas crianças.

© Victor Frond/Biblioteca Nacional

Eu achei que, depois disso, a gente teria certo momento de respiro, mas não. Logo, logo, o homem branco chega ali, em Uidá, e, de uma certa forma, essas meninas e a avó são presas e colocadas num navio negreiro, rumo ao Brasil. De conhecimento geral e por ter estudado na escola eu, obviamente, sabia a condição desumana às quais essas pessoas eram submetidas nos chamados navios negreiros, mas o fato de você acompanhar essa personagem por tanto tempo, conhecer seus sonhos e vontades e etc, dá uma humanizada nela e te coloca com força no lugar dela, tamanho poder da literatura. A quantidade de pessoas que morreram ali, seja por doença ou simplesmente por serem jogados ao mar é absurda; é impossível contar e ter um número aproximado de quantos foram, mas, segundo Ale Santos em seu livro Rastros de resistência, 12,5 milhões de escravos chegaram às Américas pelo Atlântico e a taxa de mortalidade nos navios era de 15% a 25%.

Esse primeiro capítulo se encerra com os que sobraram e conseguiram chegar à Ilha dos Frades se dirigindo à Salvador.



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A gente se vê na segunda parte desse diário, pra comentar o capítulo 2 do livro. 😊

E aí? Já leu ou ficou com vontade?
Comente sua opinião! \o/
Alec Costa

Sou viciado em cafeína, ouço cem vezes as mesmas músicas, sempre deixo queimar o pão de queijo e jogo a colher no lixo, ao invés do pote de iogurte. Ah, e sou sempre o primeiro a derramar refrigerante nas festas. twitter instagram youtube email spotify

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