Sei que já comecei diversos diários de leitura aqui no blog e a maioria deles parou abruptamente, sem desfecho. Acontece que nenhum dos livros anteriores era o Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Nenhum deles mexeu tanto comigo e me arrancou tantas lágrimas quanto Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Nenhum deles me fez repensar tanto a minha existência, meu passado e minha ascendência quanto Um defeito de cor, da Ana Maria Gonçalves. Hoje a gente tá aqui por que eu preciso registrar a transformação pela qual o meu "eu leitor" está passando. Vem comigo.
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SINOPSE
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens, Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, é um belo romance histórico, de leitura voraz, que prende a atenção do leitor da primeira à última página. Uma saga brasileira que poderia ser comparada ao clássico norte-americano sobre a escravidão, Raízes.
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Ok. Eu já tinha visto dezenas de pessoas lendo e comentando esse livro. Marlon, Kalil, Maria. Três das pessoas mais próximas à mim que leram e são, até hoje, completamente apaixonados por esse livro. Minhas expectativas estavam muito lá em cima. Por diversas vezes ouvi as pessoas se referirem à esse livro como a "bíblia da negritude" e particularmente não sei o que o achar desse termo. Deixem aqui embaixo, nos comentários, a opinião de vocês.
Em suma, Um defeito de cor vai contar a história de uma menina chamada Kehinde (lê-se queindé) que nasceu e viveu na África com sua mãe, avó, irmã gêmea e um irmãozinho mais novo. Isso era tudo o que eu sabia da história antes de pegar pra ler. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que tudo o que eu sabia sobre o livro se resumia ao primeiro capítulo? Aqui, a autora vai basicamente contar a história dessa escrava que veio ao Brasil, trazida como mercadoria.
Nessa minha edição comemorativa dos de 10 anos de publicação do livro (que foi publicado originalmente em 2006) a gente conta com um prefácio escrito pela própria autora onde ela conta, basicamente, a história da concepção do livro (que, por si só, já é uma baita história). Segundo a mesma, ela encontrou esses manuscritos numa casa X lá em Salvador e o trabalho dela foi apenas o de transcrever e traduzir o que já havia sido escrito. Algumas partes do texto estavam ilegíveis, então ela tomou a liberdade de criar certas coisas pra pôr ali.
Em suma, Um defeito de cor vai contar a história de uma menina chamada Kehinde (lê-se queindé) que nasceu e viveu na África com sua mãe, avó, irmã gêmea e um irmãozinho mais novo. Isso era tudo o que eu sabia da história antes de pegar pra ler. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que tudo o que eu sabia sobre o livro se resumia ao primeiro capítulo? Aqui, a autora vai basicamente contar a história dessa escrava que veio ao Brasil, trazida como mercadoria.
Ana Maria Gonçalves, autora de Um defeito de cor. |
Nessa minha edição comemorativa dos de 10 anos de publicação do livro (que foi publicado originalmente em 2006) a gente conta com um prefácio escrito pela própria autora onde ela conta, basicamente, a história da concepção do livro (que, por si só, já é uma baita história). Segundo a mesma, ela encontrou esses manuscritos numa casa X lá em Salvador e o trabalho dela foi apenas o de transcrever e traduzir o que já havia sido escrito. Algumas partes do texto estavam ilegíveis, então ela tomou a liberdade de criar certas coisas pra pôr ali.
Nunca é demais lembrar que tinham desaparecido ou estavam ilegíveis várias folhas do original, e que nem sempre me foi possível entender tudo o que estava escrito. [...] Espero que Kehinde aprove o meu trabalho e que eu não tenha inventado nada fora de propósito. Acho que não, pois muitas vezes, durante a transcrição, e principalmente durante a escrita do que não consegui entender, eu a senti soprando palavras no meu ouvido.
O capítulo 1, sobre o qual conversamos hoje, começa contando a história dessa menina. Iniciei a leitura no ônibus, voltando do trabalho (assim que ganhei meu exemplar de presente da Luísa! ❤). Era onze e meia da noite quando comecei a chorar em plena condução, com as pessoas me olhando. A morte da mãe e do irmão foram extremamente impactantes pra mim. Eu realmente não estava esperando que o livro fosse violento logo no início. O mundo desabando, a merda toda acontecendo em volta dessa família, e a jovem Kehinde descrevendo o riozinho de sangue que saía da boca de seu irmão. Isso me chocou e me entristeceu demais, mas foi importante pra que eu pudesse entender, logo de cara, a inocência e a ingenuidade dessa criança. Fiquei bastante emocionado - e arrepiado! - quando a Kehinde descreveu os dois se levantando e se juntando à dança dos outros abikus.
O riozinho de minha mãe primeiro correu lado a lado com o do Kokumo, depois se juntou a ele e o espichou um pouco mais. As formigas foram obrigadas a dar uma volta maior, subindo pelo tronco do iroco. Quando não consegui mais acompanhar o trajeto delas foi que percebi que já era noite e eu ainda tinha a mão presa à da Taiwo, nós duas muito quietas, não sabendo que providências tomar.
Depois disso a gente acompanha a vó (que já não é mais a mesma pessoa) e essas duas meninas saindo de Savalu, sua cidade natal, pra ir morar em Uidá. Ali a gente tem uma "sensação de bonança depois da tempestade" que dura muito pouco, mas, pelo menos pra mim, foi o bastante pra eu poder respirar e ficar feliz por essas duas meninas. O mundo delas melhora em mil porcento quando ganham vestidos novos, por exemplo, tamanha a simplicidade dessas crianças.
© Victor Frond/Biblioteca Nacional |
Eu achei que, depois disso, a gente teria certo momento de respiro, mas não. Logo, logo, o homem branco chega ali, em Uidá, e, de uma certa forma, essas meninas e a avó são presas e colocadas num navio negreiro, rumo ao Brasil. De conhecimento geral e por ter estudado na escola eu, obviamente, sabia a condição desumana às quais essas pessoas eram submetidas nos chamados navios negreiros, mas o fato de você acompanhar essa personagem por tanto tempo, conhecer seus sonhos e vontades e etc, dá uma humanizada nela e te coloca com força no lugar dela, tamanho poder da literatura. A quantidade de pessoas que morreram ali, seja por doença ou simplesmente por serem jogados ao mar é absurda; é impossível contar e ter um número aproximado de quantos foram, mas, segundo Ale Santos em seu livro Rastros de resistência, 12,5 milhões de escravos chegaram às Américas pelo Atlântico e a taxa de mortalidade nos navios era de 15% a 25%.
Esse primeiro capítulo se encerra com os que sobraram e conseguiram chegar à Ilha dos Frades se dirigindo à Salvador.
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A gente se vê na segunda parte desse diário, pra comentar o capítulo 2 do livro. 😊
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